TARIFAÇO NO AGRONEGÓCIO: IMPACTOS PARA O PRODUTOR RURAL E OS RISCOS NAS EXPORTAÇÕES
Gustavo Lastro • 8 de setembro de 2025

TARIFAÇO NO AGRONEGÓCIO: IMPACTOS PARA O PRODUTOR RURAL E OS RISCOS NAS EXPORTAÇÕES

A chantagem fiscal promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil, mais conhecida como “tarifaço” entrou oficialmente em vigor no dia 6 de agosto e desde então vem gerando debates intensos sobre seus impactos no agronegócio brasileiro. Mais do que uma pauta política, o tema é uma realidade concreta para produtores rurais que dependem da exportação para escoar sua produção. E a grande questão que se coloca é: como lidar com a mudança de regras no meio do jogo?


EXPORTAÇÕES EM RISCO: CONTRATOS E EXIGÊNCIAS INTERNAICONAIS

Para muitos produtores, especialmente aqueles voltados para exportação, o tarifaço representa um risco imediato. Diferente da venda para o mercado interno, a produção voltada para o mercado externo obedece a contratos rigorosos, que incluem especificações de qualidade, armazenamento e até insumos utilizados. Quando um produtor investe em ração diferenciada para atender um importador, por exemplo, ele faz isso confiando que haverá demanda garantida. Alterar essas condições de forma inesperada compromete diretamente toda a estratégia construída.

Essa realidade fica clara quando pensamos em exemplos práticos. Um ovo destinado à exportação, por exemplo, precisa ter tamanho, casca e até alimentação da galinha dentro de parâmetros contratuais definidos pelo comprador estrangeiro. O produtor se estrutura para cumprir essas exigências, e de repente descobre que não há mais mercado comprador nos mesmos termos porque os custos subiram. O resultado? Perdas que dificilmente podem ser compensadas apenas redirecionando a mercadoria para o mercado interno.

ICMS E OUTRAS MEDIDAS DE ALÍVIO

O governo do estado de São Paulo anunciou recentemente a liberação de R$ 1,5 bilhão em créditos acumulados de ICMS para empresas, incluindo produtores rurais. Embora a medida ofereça um “fôlego” em meio à turbulência, especialistas são unânimes em afirmar que não é suficiente para cobrir os prejuízos decorrentes do tarifaço. A preocupação é ainda maior com regiões como o Nordeste, que nos últimos anos investiram fortemente em tecnologia e irrigação para tornar viável a produção de frutas voltadas à exportação. Sem apoio ou alternativas, muitos pequenos produtores podem simplesmente não ter condições de colher suas safras.

Outro ponto crítico está nas negociações internacionais. O Brasil sempre foi um parceiro estratégico dos Estados Unidos pela pluralidade de produtos que exporta: café, laranja, soja, carne, entre outros. A elevação das tarifas torna o produto brasileiro menos competitivo, abrindo espaço para que os americanos busquem fornecedores em diferentes países. Essa mudança, porém, não é simples: para os importadores, a diversificação de fornecedores significa mais complexidade nas negociações e logística. Ainda assim, a longo prazo, tende a redesenhar o mapa do comércio internacional.


POR QUE O DEBATE PRECISA INCLUIR OS PEQUENOS PRODUTORES?

Para os produtores rurais brasileiros, especialmente os pequenos e médios, o desafio agora é sobreviver ao curto prazo. É possível renegociar contratos? Sim, mas nem sempre com condições vantajosas. É possível direcionar para o mercado interno? Em alguns casos, sim, mas com margens muito menores. O que parece certo é que a solução passa tanto por medidas governamentais que minimizem as perdas quanto pela abertura de novos mercados internacionais, reduzindo a dependência de poucos parceiros comerciais.

O tarifaço, portanto, não é apenas uma questão política. Ele mexe diretamente na vida do produtor rural, desde aquele que cultiva frutas no sertão nordestino até o grande exportador de grãos no Centro-Oeste. O futuro dependerá de estratégias inteligentes de negociação, apoio governamental bem direcionado e da capacidade do setor de se adaptar a esse novo cenário global.


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